sexta-feira, 3 de julho de 2009

Um poeta, uma época (II)

Um poeta, uma época (II)

Sitônio Pinto

Mas a Geração 59 alcançava outras áreas das artes, a exemplo do teatro, onde Vanildo também escrevia peças, como A Serpente Alada, A Rebelião dos Abandonados, publicadas em plaquete, Andira (publicada n’A União nas Letras e nas Artes), e a inédita O Conselheiro, texto que o Autor leu para mim no Badionaldo (Praia do Poço), e depois destruiu, por excesso de auto-crítica. Em poesia, Vanildo publicou A construção dos mitos, O espaço e a palavra, Cantigas de amor para Inalda, Memorial poético, A sagração do emblema, Sinal das horas e Selecta carmina. Ainda traduziu fragmentos de Lucrécio, em Da natureza das cousas (De rervm natvra).
O espaço e a palavra é um livro de temática diferenciada, pois trata, poética e epicamente, da exploração do espaço sideral, do nascimento da cibernética, da palavra humana e da palavra organizada pela inteligência artificial. O livro já estava pronto nos fins dos anos sessentas, dez anos após G-59, muitos anos antes da democratização do computador. Quando concluiu o livro, o poeta brindou-me com a leitura íntima do texto no Badionaldo, como fizera com O Conselheiro.
Ao tempo da Geração 59 foi a premiação da peça A Erva, de Altimar Pimentel, e o primeiro lugar alcançado pelo Teatro do Estudante do Paraíba (TEP), no Festival Nacional de Teatro de Estudantes, realizado em Santos, SP, naquele ano, com a peça João Gabriel Borkman, de Henrik Ibsen. Era a primeira tradução da peça em português, feita por Walter Oliveira e Raimundo Nonato Batista. O prêmio de melhor ator ficou para Valdez Silva, e o de melhor atriz para Risoleta Córdula.
No dizer de Glauber Rocha o Cinema Novo Brasileiro nasceu em Paraíba, com os documentários Aruanda (Linduarte Noronha, Vladimir Carvalho, João Ramiro, João Córdula), Cajueiro Nordestino (Linduarte Noronha), Romeiros da Guia (Linduarte Noronha), o que teria continuidade, mais tarde, com A Cabra (Rucker Vieira), Padre Zé Estende a Mão (Jurandy Moura), e o longa Fogo (Linduarte Noronha). Esse grupo de cineastas compunha a ambiência da Geração 59. Havia elementos que faziam parte dos dois grupos (de poetas e cineastas), como João Ramiro. Merece especial registro a presença do amazonense Pedro Santos, o roteirista musical do Cinema Novo Brasileiro que surgia no Paraíba dos anos cinqüentas.
O pintor Ivan Freitas deu uma denominação mais abrangente àqueles artistas que tentavam renovar as artes no Paraíba e no Brasil (como foi o caso do Cinema Novo): os Párias. Ivan era autor de grande parte do vocabulário da Geração 59. Assim, poetas, teatrólogos, cineastas, pintores, escultores, músicos, éramos todos párias. “Somos uns párias” — disse, um dia, Ivan Freitas a Vanildo. E ficou batizada a grande geração de artistas que excedia ao grupo de poetas. Os párias tinham ritual de batismo, lá nas fontes da água mineral Santa Rita. E tinham sede física: a princípio reuniam-se numa pensão da Rua 13 de Maio, onde moravam alguns deles; depois alugaram um primeiro andar da rua Duque de Caxias, onde instalaram o surrealista Clube do Silêncio. (Continua.)