sexta-feira, 3 de julho de 2009

Seremos todos campeões

Seremos todos campeões

Sitônio Pinto

Oito a um. Já vi um escore desses numa partida de futebol entre as seleções do Brasil e do Peru, se não me engano. A seleção chilena estava desclassificada, já tinha ido embora. Com a vitória acachapante do Brasil, o Peru caiu fora e o Chile foi classificado matematicamente, por saldo de golos. O técnico do Chile ficara para ver o jogo, e saiu às pressas do estádio para chamar seu time de volta.
Agora, o Supremo Tribunal Federal derribou, pelo mesmo escore, a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. Os órgãos de classe dos jornalistas chiaram, os patronais aprovaram. Há muito tempo já me manifestei, em artigos, sobre o caso. Fui dirigente do Sindicato dos Jornalistas e tive que refletir sobre esse assunto para defender a categoria. Entendo a situação de maneira diferente dos órgãos dos trabalhadores da imprensa, dos patrões, dos advogados e do STF.
O meu ponto de vista não é original, pois já foi adotado em algumas unidades dos Estados Unidos da América, e deu certo. Naquelas unidades administrativas dos EEUU, estabeleceram a obrigatoriedade de pós-graduação para o exercício da profissão de jornalista e extinguiram a graduação. Essa medida valorizou o novo profissional, que passou a ser pós-graduado. Valorizou, ainda, porque ele passou a ser diplomado também noutra profissão. Essas duas situações lhe dão prestígio diante do patronato, o que repercute no salário. E as redações ganharam com isso, pois passaram a ter especialistas nos seus quadros:um jornalista-engenheiro para cobrir o acidente da ponte que caiu, um jornalista-médico para escrever sobre a epidemia, um jornalista-economista para explicar a crise econômica; um jornalista-jurista para analisar a decisão do tribunal etc.
O jornal é uma enciclopédia que tem de ser escrita todo dia, em doze horas. Ele reporta todos os assuntos. Mas as redações não têm especialistas sobre tantos temas, pois o curso de jornalismo não forma especialistas noutras áreas, muito menos faz enciclopedistas. Resultado: quando o repórter vai cobrir a ponte que caiu, o que se lê é um monte de impropriedades. Assim com o noticiário sobre a epidemia, sobre a crise econômica do capitalismo, sobre a decisão do júri que soltou o réu. O curso de jornalismo só ensina a fazer jornal, não é um super-curso que forma profissionais aptos a escrever sobre qualquer assunto. Daí as heresias que se lê nas páginas dos jornais, desde que se entenda do assunto em pauta. E o resultado não podia ser outro, pois o foca nada entende das redes de transmissão de energia elétrica para falar sobre a os planos de expansão da Eletrobrás.
Agora, com a decisão do STF, o jornal pode contratar um engenheiro-eletricista para a redação. E exigir que ele tenha uma pós-graduação em jornalismo, pelo menos uma especialização de um ano. Eis o que deve se transformado em lei, por decisão do Congresso (esse dos atos Secretos). Ganharão os jornalistas, que passarão a ser profissionais mais qualificados; ganharão os jornais, que terão em suas redações especialistas em áreas diversas; ganharão os leitores, que vão dispor de informações mais precisas. Ganharão o Chile, o Brasil e o Peru, num jogo onde ninguém sairá perdendo, onde todos seremos campeões.