sexta-feira, 3 de julho de 2009

O cara do Brasil

O cara do Brasil


Sitônio Pinto


Circulando pelas ruas automóveis com um estranho adesivo nos pára-brisas: O cara do Brasil. Apressadamente, julguei que fosse um erro gramatical; mas, a uma segunda leitura, lembrei-me da frase que o presidente Obama, dos EUA, pronunciou a respeito do presidente Lula, num encontro a três com o primeiro-ministro da Austrália: “este é o cara”. Pode ser que o adesivo seja mesmo uma referência a Lula, numa repercussão do comentário bem-humorado do presidente Obama.
O fato é que Lula está com um grande índice de popularidade, dentro e fora do Brasil, até na terra de Marlboro. Quem diria, ele que era mal visto pela CIA, pelo FBI e pela Ku-Klux-Klan, que era tido como um comunista, como uma ameaça à democracia e à estabilidade política do continente. O que dirá o ex-delegado Tuma, agora senador, que prendeu Lula como um subversivo, um agitador, um mau brasileiro, durante a ditadura militar que torturou o Brasil por mais de duas décadas? O que dirão aqueles que o reprimiram? Lembro-me de Lula comentando, na sua primeira campanha, na propaganda eleitoral, diante das câmaras de televisão: “esta cacunda aqui já levou muita cacetada da polícia de Maluf”.
Mais de 80 % de aprovação, dizem as pesquisas. Popularidade assim nunca se viu no Brasil. Nem a de Juscelino, quando inaugurou Brasília; nem a de Getúlio, quando lançou a versão brasileira da Carta Del Lavoro – a legislação trabalhista de Mussolini. Nem a popularidade de Jânio Quadros, o homem da vassoura, quando proibiu lança-perfume, desfile de maiô e briga de galos; nem de João Goulart, quando decretou a nacionalização das companhias de petróleo no Brasil, o que apressou sua deposição pouco tempo depois.
Os índices de aprovação dos quatro generais da ditadura militar não chegavam à metade do nordestino de Caruaru: Castelo Branco ficou em torno de 6,6 %; Costa e Silva foi um pouco mais além: 7,2 %; Médici desceu para 4,9 %; Geisel conseguiu 8,1; e Figueiredo, que promoveu a reabertura, alcançou 8,7 %. Esses cinco cavaleiros apocalípticos, somados, só alcançaram 35,5 % de aprovação popular, segundo os arquivos secretos do SNI.
Lula está dando de capote nos cinco generais e suas vinte estrelas, mesmo contrariando a vontade do povo, que pede sua reeleição. Debalde o clamor popular, pois Lula já afirmou que não vai disputar um terceiro mandato. Entendo que essa atitude do presidente é anti-democrática, pois contraria os anseios do povo brasileiro tão bem demonstrados nas pesquisas de opinião, assim como na “boutade” bem-humorada do presidente Obama que pode ter dado vez ao adesivo circulante nas ruas.
Terá sido Obama que mandou fazer O cara do Brasil? Uma coisa é certa: não se trata de campanha eleitoral, pois Lula já disse que não aceita ser candidato, que tem sucessora na pessoa da camarada Dilma Houssef, a ex-comandante das organizações guerrilheiras que resistiram à ditadura militar. Sem dúvida, Dilma é uma grande candidata, com notável formação e pós-graduação nos bancos acadêmicos e nos porões da tortura da ditadura (desculpem a rima). Se Lula é o cara, ela é a cara do Brasil.