sexta-feira, 3 de julho de 2009

Mestre dos mestres

Mestre dos mestres

Sitônio Pinto

Ontem, 15 de junho, a Universidade Federal da Paraíba deu ao mundo mais um doutor Honoris Causa, como já fizera com Sivuca e Ariano Suassuna. Dessa vez o homenageado foi o jornalista, cronista e escritor Gonzaga Rodrigues. A UFPB tem sido seletiva na concessão de seus diplomas de mérito. Todos os seus agraciados bem que fizeram por merecer os títulos. Quão diferente tem sido a UFPB de outras instituições que premiam medalhões com mais medalhas, comendas e outros títulos, eu ia dizendo “mobiliárquicos”. Dia desses premiaram duas figuras da televisão brasileira que nada têm a ver com a Paraíba, quiçá com o Brasil, e elas cá não vieram receber a pataca; foi bem feito. Mas Gonzaga merece esse e outros louros, assim como a UFPB merece o escritor de “Notas de meu lugar”, e, acredito, nós merecemos os dois.
O escritor Gonzaga Rodrigues deve ser incluído no roteiro turístico da Paraíba, com seus registros documentais do espaço físico e humano desta Capitania Real - não quero dizer “província”. Se a Paraíba foi fundada como capitania real, e não capitania hereditária, por que chamá-la de “província”? Se a terra de Gonzaga Rodrigues já deu sete nomes para compor a constelação da Academia Brasileira de Letras, tem de ser mesmo uma capitania real. Para quem não se lembra, lá vão os sete nomes, número que poderia crescer para oito com o nome do autor de “Um sitio que anda comigo”: Pereira da Silva, José Lins do Rego, José Américo, Assis Chateaubriand, Lyra Tavares, Celso Furtado, Ariano Suassuna. Se for pela disciplina tão à vontade do texto, pela economia e resultado da frase, pelo brilho simples e transparente da palavra luminosa de cristal, a prosa de Gonzaga Rodrigues nada fica a dever ao verbo de nenhum desses conterrâneos que ganharam, merecidamente, prestígio nacional.
Quem quiser conhecer a Paraíba pode começar com os textos de Gonzaga Rodrigues. São um prelúdio ao viajante que deseje fruir a paisagem física e humana da terra também de Pedro Américo, pintor como Gonzaga, um de pincel, o ou outro de pena. A Paraíba, como resultado colonial da invasão Portuguesa, com seu espaço e sua história – principalmente sua história recente, afetiva, lírica – está documentada carinhosamente na obra de Gonzaga, que ainda não foi dada à informação e deleite do público brasileiro por miopia dos editores dos grandes centros. Esses só têm olhos para os que deles se aproximam, aos quais o poeta Vanildo Brito chamava de “paus-de-arara” literários. Já não se fazem editores como antigamente, a exemplo de Augusto Frederico Shmidt, que pegou o vapor no Rio de Janeiro para vir buscar Graciliano Ramos em Quebrangulo.
Se algum editor do eixo Rio - São Paulo estiver lendo esta crônica em “A União” saiba, desde logo, que a Paraíba Real tem um escritor em caixa-alta ainda não lido pelo público brasileiro – o autor de “Filipéia e outras saudades”, de “Retrato de memória”, o Gonzaga das esquinas e dos cafés, ruas e casarios, praças e adjuntos. Só lendo para crer: seu texto não deve aos melhores da crônica de língua portuguesa, daqui e de ultra-mar. Um texto que anda comigo pelas redações da vida, pelos acentos graves e tão agudos da vida, e pelos tremas que ainda há – como a “saüdade” de Camões – que, reformado, vai ganhar um verso heróico de nove sílabas. Mas as gramáticas passam, Camões e Gonzaga ficam.